Dez
anos atrás, antes do baile de formatura da faculdade, lógico, eu já namorava
Juliana, a maldita, a dita cuja, a mulher a qual tive o desprazer de casar e
ter dois filhos. Okay, antes que me culpem, por simplesmente ter casado com essa mulher e ter fingido amá-la, gostaria que se atentassem a
história e o seu desenrolar, conseguirão entender que a culpa talvez nunca fora
minha, que o relacionamento durou até demais, sobreviveu bem no desenrolar dos
anos, fiz o que fiz pelas crianças (por mais insuportáveis que sejam, talvez seja culpa da adolescência), jamais por ela. Espero deixar isso bem
claro, pois naquela noite descobri que estava grávida, mas isso também
começarei a contar agora.
Antes
de mais nada, queria deixar bem claro uma coisa: Juliana era linda, família
tradicional do interior paulista, era chefe de torcida, aluna número um da sala,
mulher número um da faculdade, fofoca número 1 dos corredores. Os jornais da
faculdade eram escritos por um amigo meu, o japonês, a qual aos pedidos feitos
por mim, após relutar muito, publicou uma nota de amor cego e juvenil pela doce
Juliana. Disse que a cada medalha ganha nas olimpíadas estudantis, eu viveria
para o dobro de anos um amor surreal. Okay, além de natação, eu era do time de
futebol e de basquete da faculdade, ganhei malditas 9 medalhas. Um novo e lindo
romance começou, desde o início olhar para outra se tornou cada vez mais difícil.
Desenrolaram-se quatro anos até a incrível formatura, incrível para ela, um vestido a cada noite, eu
tinha apenas um blazer, eu era bolsista esportivo e nunca tive recursos. Aluguei um carro
aquela noite, maldita noite em que descobri que Juliana estava grávida. Clima
de festa, famílias felizes pela formatura dos filhos. Eu já sabia da notícia, bebi, enchi a cara, vomitei no banheiro feminino, subi no palco
da banda, anunciei que iria ser pai, usei lança perfume e fumei maconha.
Sem
luz, escuro e flash! O japonês tinha a última manchete antes do seu estágio em
terras europeias, mas a principal notícia viria no mais tardar. Os malditos
pais da maldita (sim, usarei essa expressão, pois a Juliana é e sempre será a
maldita) não gostaram nada da notícia. Agente federal secreto das forças
especiais das três forças brasileiras, o maldito era casca grossa, com um soco
inglês bateu onde os hematomas e cortes não ficariam visíveis. Apanhei sozinho
no banheiro, como se eu tivesse transado sozinho, como se a maldita não houvera
avançado o sinal vermelho, em minha barraca das olimpíadas e tivesse pedido
para comê-la de 4, 8 e 16. Idiota, achou que a maldita Juliana ainda era virgem.
Não
sei onde acordei, atordoado e preso a uma maca, não era no hospital. Menciono:
eu estava nu. Dois corpos no chão, o maldito estava lá, como um idiota em filme
americano me interrogou, disse se eu conhecia os dois no chão. Eu disse que
não. Menti, eram dois traficantes, que, aliás, vendiam drogas para a filha dele. A
maldita Juliana sempre usou cocaína, eu detestava. Eu bebia e fumava uns becks
às vezes, mas por ser esportista, eu nunca sequer cogitei em cheirar esse
maldito pó. Pude perceber por uma fresta que o amanhecer viria, pensei ser a
mesma noite do baile, não lembro mais de nada, mas vi estrelas quando senti a
coronhada em meus colhões.
O
maldito me fez jurar muitas coisas, era isso ou perder a vida. Hoje, sóbrio e com a mentalidade que tenho, quando não tinha aos meus 20 anos de idade, com certeza
eu falaria para puxar o gatilho. Maldita escolha. Longos anos ao lado de
Juliana. Assumi a responsabilidade pelos assassinatos em troca de asilo
internacional em uma ilha qualquer aqui no interior esquecido do México.
Lógico, os malditos subordinados do tirano me fizeram assinar termos
incansáveis que testamentassem a autoria do crime. Pensei na filha da puta
grávida, nos natais que eu seria obrigado a engolir a seco o maldito figurão e
em quantas festas de aniversário eu teria que fingir amar Juliana por conta
disso.
Enfim, o casamento foi um sucesso...
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