segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Cap. 02 - O começo...

Dez anos atrás, antes do baile de formatura da faculdade, lógico, eu já namorava Juliana, a maldita, a dita cuja, a mulher a qual tive o desprazer de casar e ter dois filhos. Okay, antes que me culpem,  por simplesmente ter casado com essa mulher e ter fingido amá-la, gostaria que se atentassem a história e o seu desenrolar, conseguirão entender que a culpa talvez nunca fora minha, que o relacionamento durou até demais, sobreviveu bem no desenrolar dos anos, fiz o que fiz pelas crianças (por mais insuportáveis que sejam, talvez seja culpa da adolescência), jamais por ela. Espero deixar isso bem claro, pois naquela noite descobri que estava grávida, mas isso também começarei a contar agora.

Antes de mais nada, queria deixar bem claro uma coisa: Juliana era linda, família tradicional do interior paulista, era chefe de torcida, aluna número um da sala, mulher número um da faculdade, fofoca número 1 dos corredores. Os jornais da faculdade eram escritos por um amigo meu, o japonês, a qual aos pedidos feitos por mim, após relutar muito, publicou uma nota de amor cego e juvenil pela doce Juliana. Disse que a cada medalha ganha nas olimpíadas estudantis, eu viveria para o dobro de anos um amor surreal. Okay, além de natação, eu era do time de futebol e de basquete da faculdade, ganhei malditas 9 medalhas. Um novo e lindo romance começou, desde o início olhar para outra se tornou cada vez mais difícil. 

Desenrolaram-se quatro anos até a incrível formatura, incrível para ela, um vestido a cada noite, eu tinha apenas um blazer, eu era bolsista esportivo e nunca tive recursos. Aluguei um carro aquela noite, maldita noite em que descobri que Juliana estava grávida. Clima de festa, famílias felizes pela formatura dos filhos. Eu já sabia da notícia, bebi, enchi a cara, vomitei no banheiro feminino, subi no palco da banda, anunciei que iria ser pai, usei lança perfume e fumei maconha. 

Sem luz, escuro e flash! O japonês tinha a última manchete antes do seu estágio em terras europeias, mas a principal notícia viria no mais tardar. Os malditos pais da maldita (sim, usarei essa expressão, pois a Juliana é e sempre será a maldita) não gostaram nada da notícia. Agente federal secreto das forças especiais das três forças brasileiras, o maldito era casca grossa, com um soco inglês bateu onde os hematomas e cortes não ficariam visíveis. Apanhei sozinho no banheiro, como se eu tivesse transado sozinho, como se a maldita não houvera avançado o sinal vermelho, em minha barraca das olimpíadas e tivesse pedido para comê-la de 4, 8 e 16. Idiota, achou que a maldita Juliana ainda era virgem.

Não sei onde acordei, atordoado e preso a uma maca, não era no hospital. Menciono: eu estava nu. Dois corpos no chão, o maldito estava lá, como um idiota em filme americano me interrogou, disse se eu conhecia os dois no chão. Eu disse que não. Menti, eram dois traficantes, que, aliás, vendiam drogas para a filha dele. A maldita Juliana sempre usou cocaína, eu detestava. Eu bebia e fumava uns becks às vezes, mas por ser esportista, eu nunca sequer cogitei em cheirar esse maldito pó. Pude perceber por uma fresta que o amanhecer viria, pensei ser a mesma noite do baile, não lembro mais de nada, mas vi estrelas quando senti a coronhada em meus colhões.


O maldito me fez jurar muitas coisas, era isso ou perder a vida. Hoje, sóbrio e com a mentalidade que tenho, quando não tinha aos meus 20 anos de idade, com certeza eu falaria para puxar o gatilho. Maldita escolha. Longos anos ao lado de Juliana. Assumi a responsabilidade pelos assassinatos em troca de asilo internacional em uma ilha qualquer aqui no interior esquecido do México. Lógico, os malditos subordinados do tirano me fizeram assinar termos incansáveis que testamentassem a autoria do crime. Pensei na filha da puta grávida, nos natais que eu seria obrigado a engolir a seco o maldito figurão e em quantas festas de aniversário eu teria que fingir amar Juliana por conta disso.

Enfim, o casamento foi um sucesso...

domingo, 18 de janeiro de 2015

Cap. 01 - Prólogo

Era manhã de domingo, como de costume aprendi com meu pai, que aprendeu com o meu avô e repassou para mim e meus três irmãos, que, somente em raras exceções uma mulher deve acordar antes de você. Conclui-se durante os 10 anos de casados esse sacrilégio. Sempre dormi tarde e acordei cedo, inclusive em manhãs como essas, semanas atrás os problemas já não conseguiam mais serem encobertos. Foda-se, há tempos eu simplesmente não me importo.

Domingo, saio para pegar o jornal, tomo meu café da manhã. Leite gelado, torradas e frios. Não acordo-a, não levo café da manhã na cama e não digo bom dia abrindo as cortinas, apenas saio para correr, quando corro sou livre do mundo. Sou livre das reclamações constantes de minha mulher, das reclamações dos pais dela e dos meus filhos. Crianças insuportáveis, puxaram a mãe, tenho certeza. 

Sou livre dos crimes que cometi, registros apagados por ter cooperado com os federais, deveria ter sido condenado, pago por esse maldito crime até hoje. Enfim, livre e sem roteiros, escapatória desejável. Desejo acordar em um domingo eterno. Desejo acordar e não escutar essa voz toda manhã.

Maldita mulher...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sobre os surtos da despedida...

Horas atrás você estava em minha cama, totalmente nua, ria das minhas piadas enquanto brindávamos ao brilho da lua. Minutos atrás você se levantou na ponta do pé, tinha acabado de fazer as unhas, momentos inesquecíveis para uma vida tão dura. Eu tenho sérios problemas com mulheres que me fazem sorrir e esquecer dos problemas. Ela prometeu vingança, surtou e foi embora. Okay, acostumado com despedidas deixe-a ir, nasci sozinho, morrerei sozinho. Simples.

Sabe a merda!? Sabe o foda!? Eu estava me acostumando com as cores do cabelo dela sobre o meu peito, me acostumando com o jeito debochado de sorrir de canto, de me olhar debaixo pra cima, como se na pretensão de pedir algo, súplicas sempre concedidas. Maldito poder de persuasão. Meus braços fazendo o seu porto seguro. Na verdade, a maldita chegou em casa sem pedir licença, começou a escolher os filmes e mudou as cortinas da minha sala. Porra, deu vida ao meu apartamento, perdi minha vida desde que entrei para a Polícia. Aliás, eu já era um sujeito complicado antes disso. 

Enfim, a maldita levantou na ponta do pé e mencionou poucas palavras. Eu não entendi, aceitei calado e bebi como se não houvesse amanhã. Deve ser foda não receber ligações minhas, eu sumo enquanto trabalho e me escondo quando tenho raros momentos de folga. Okay, tenho admitido para muitas pessoas que tinha encontrado a mulher certa, até um maldito gato ela tinha trazido. O nariz dela era empinado e grande, tive quase certeza que havia ganho em uma loteria, em um cassino onde todas as fichas seriam minhas. Jackpot winner.

Em algum momento da conversa eu me perdi, as risadas se tornaram lágrimas, de repente vestida, de repente fora do meu apartamento. Fora do meu apartamento. O galileu ficou.

A maldita bateu forte, detesto admitir, mas o jeb pegou no queixo.

Por isso eu não baixo a porra da guarda, detesto o cheiro de sangue constante entre meus dentes.

Ah, galileu é o maldito gato.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Sobre seus julgamentos...

O destino é realmente foda. Tempos atrás, ainda na adolescência, eu me apaixonei. Tive a mulher mais linda em meus braços, perdi noites de calor e estive incrivelmente envolvido em seus sorrisos, perdido em seus olhares. Me permiti ser feliz, era inocente e estava extremamente empolgado com aquela situação. Eu sou um idiota.

Ela partiu, meu coração sangrou e desde então me perdi em muitas outras desilusões amarosas, porém desta vez com a consciência sã, nunca mais sofri, nunca mais sorrirá como outrora.

Hoje em dia, por volta das duas ou três da manhã de um novo dia eu estive com meu grande amor, sei lá, dez anos atrás nós não imaginávamos que hoje teríamos essa chance novamente. Tivemos, foi maravilhoso e perfeito. Os dois corpos se tornaram um só, sussurros ecoavam e pediam mais, calcinha no chão. Sutiã também. Nós dois também. Gosto do jeito que sorri, me beija, geme no meu ouvido e diz que sou maluco. Maluca, louca, doida!!! Okay, fazemos amor e os julgamentos começam, ela chora e se diz arrependida, diz que sou um monstro ao não entender o que ela sugere. 

Aceito calado.

Ela não entende quão impossível é o nosso amor, sempre secreto, aliás. Infelizmente não podemos ter o melhor de dois mundos, não sou hipócrita, me arrisco, mas simplesmente não podemos transparecer o quão lindo é o nosso amor. Ela não entende, chora e diz que sou o pior homem do mundo.

Aceito calado.

Recebo essa medalha e aceito seus julgamentos, afinal, não é isso o que os monstros fazem!?

Preciso beber alguma coisa...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Sobre a falta de desejo...

A maioria dos meus amigos sonham em encontrar alguém que os mereça, que os entenda e que traga para si uma vida em paz, uma vida transformada da estranha obsessão de fazer apenas uma mulher feliz, capacidade de amar apenas uma mulher. Daqui até a eternidade. Besteira, são uns idiotas.

Há dias tenho estado sozinho, em paz com meus pensamentos enquanto bebo e esqueço do trabalho, das dores de cabeça constantes na repartição e da minha mulher que resolveu partir. Na verdade, ela simplesmente viajou e deixou um bilhete dizendo que voltaria. Hoje fazem mais de quatro anos, não a procurei, foi a escolha dela, isso me faz ser um monstro?

Não procuro acordar com uma mulher ao meu lado, acho isso um saco, gosto de transar e depois inventar uma desculpa para vê-la ir embora, não minto para não criar expectativas, simplesmente não faço com ninguém o que a maldita fez comigo, ela criou um monstro. Okay, até certo ponto eu não consigo odiá-la, ela me fez bem, pois se hoje sou o homem que sou eu devo à ela, afinal quando ela saiu por aquela porta eu resolvi viver para mim. Adoro a solidão que me pus, inclusive, tenho absoluta certeza que a vi pela janela do meu apartamento esses dias. Insolente, acusa-te com óculos escuros enquanto vigia a minha porta. Ouvi dizer que está feliz, mas que felicidade é essa, se ainda procura aqui em meu território motivos para chorar novamente?