segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Às vezes...

Sou morador de um bairro nobre próximo à quinta avenida, aqui em Nova Iorque. Trabalho em uma corretora de seguros e desde que vim tentar a sorte no exterior, já fiz de tudo nesta vida. Deixei todos meus amigos e familiares no Brasil, mas o mais doloroso desencontro da minha vida fora deixar aos prantos no aeroporto a minha ex namorada.

Éramos jovens e imaturos, amor adolescente, inóspito e frívolo. Eu sabia que tentaria a vida aqui, mesmo assim a propus amor verdadeiro. Aos prantos deixei-a para o mundo, fui conquistar o meu. Meus passos e só, a vida me derrubou enquanto a internet não era o marco avançado que é hoje, longos 15 anos longe do Brasil, nunca mais voltei, poucos compartilharam da minha dor de tempos atrás, por sorte a internet não era o que é hoje.

Usei essa introdução para deixar bem claro quão falho meus relacionamentos foram, pois somente esse valeu a pena ser dito, somente nesse o amor era gostoso de ser feito, pois acordávamos no meio da madrugada insaciáveis, loucos e dispostos a perder mais uma ou duas horas gozando de um prazer ininterrupto. 

Sim, lógico que tentei me entreter em outros braços, conheci corpos diferentes, mas nunca fora algo ardil, apenas sexo em meu pequeno apartamento. Aficionado por filmes, livros e com todos os tipos de bebidas, convenhamos, fica um pouco mais fácil quando és inteligente e culto. Eu finjo ser, sou um excelente mentiroso.

Dias atrás fui ao coffe break próximo de casa, nevava e me deparei com um inglês sofrível vindo do balcão, ri, pois parecia o meu.

O nome dela era Cristina, nos permitimos e hoje nós fazemos a noite se acostumar a se tornar dia. Me permiti, ela se permitiu esquecer duas calcinhas no meu banheiro e desde então até nossa cadelinha Rubi gostou de ficar por aqui.

Me permiti, Cristina me amou desde então.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Cap. 04 - o fim!

...talvez a culpa pela morte de Gemma tenha sido minha, eu não deveria tê-la envolvido em algo assim, deveria ter me afastado enquanto pude e ter feito o meu casamento ser um sucesso. O conto de fadas da maldita seria incrível, seria um espetáculo, seria realmente fantástico.

Águas passadas, domingos tristes e semanas tortuosas, parei de trabalhar e me tornei voluntário de um centro de catástrofes locais em minha própria cidade. Sempre vigiado pela maldita, seguindo passos tristes, como se um velho fosse esquecido em um asilo qualquer, como se fosse um interno em algum hospício por aí. 

Tudo muito confuso, pois me culpo pela morte de Gemma, algo perturbador recorda em minha memória aquela fatídica tarde, me tira do eixo, faz meu passado escurecer em sépia, pois a maldita não só me propôs apenas infelicidade, como me assombra em todos os cantos da casa, esmorece meu silêncio.

Hoje não é um dia de dúvidas ou arrependimentos, hoje é um dia a se fazer...

Viajei cento e vinte quilômetros até o túmulo de Gemma, suando frio e completamente bêbado, feliz. Eu estava realmente feliz!

Que Deus abençoe meus filhos nascidos e amaldiçoados, morrerei perto de quem amei, não precisarei de retoques formais e rituais fúnebres, estou vestindo um black tie e dentro de 15 minutos morrerei feliz com o efeito do veneno, pois sei, que neste mundo vasto e desleal, nunca mais precisarei ver Juliana,

a maldita!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Cap. 03 - enquanto eu fingia estar bem...

...sucesso uma ova!

Cinco anos atrás eu resolvi esparecer, criei uma rotina ímpar, arrumei um trabalho extremamente cansativo nas praias desertas e pouco frequentadas da costa leste do México. Eu viajava malditos 120 quilômetros todos os dias, mas por momentos que pareciam intermináveis eu estava longe de Juliana. 

Aprendi inglês, já dominava o espanhol e conheci uma alemã também escondida por lá, logo comecei a me interessar pela língua alemã, logo comecei a me apaixonar por Gemma Bailey. A maldita nem sonhava com isso, era o plano de fuga perfeito dentro do próprio plano imperfeito que fora o meu maldito e abençoado casamento.

Eu entrava às 11 da manhã, mas comecei a chegar às 8 da manhã, enquanto em dias normais costumava sair às 19 horas e normalmente a rotina agora me fazia estar em casa às 23 horas (às vezes eu não voltava), já exausto, com pouco tempo de perceber aquelas olheiras tortuosas e aquele cabelo constantemente alterado; ora loiro; ora preto; ora loiro e preto. Detesto essa maldita, mas não estragarei mais tantas linhas sobre ela nesse capítulo.

Quando conheci a doce alemã, percebi que fugia de algo também, percebi quão solitária era, pensei que talvez tenha feito algo ruim, como eu. Geralmente penso nas mulheres como desastres naturais, como sou, quero que sejam também.

Gemma tinha olhos verdes e algumas sardas sobre o seu nariz grande, o qual fiquei apaixonado desde o primeiro bom dia trocado. Ela entendeu a minha maldita situação e depois de três meses de uma romântica amizade nós fomos para o quarto de hotel que a mesma alugará sem tempo para devolução de chaves.

O primeiro encontro foi quente, a cortina pegava fogo enquanto pela fresta o sol tentava nos intimidar. Calcinha no chão, na ponta do pé empinava a bunda em uma performance incrível nos ritmos da música que suavemente atravessava o quarto. Ela sabia como conduzir a dança, quando menos percebi já estava em seu compasso, já estava dentro do seu corpo, pulsando taquicardia sinusal. Ela adorava a forma que pegava em seus peitos por trás, pois enquanto gemia Gemma encostava a nuca em meu pescoço e pedia mais, pedia mais forte e dizia que tudo era meu e que a partir daquele momento tudo seria nosso.

Ela arrepiava do cóccix até a medula, nua em pêlo e como de costume quis tomar conta da situação e em movimentos elásticos me fez esquecer da vida, me fez esquecer do mundo que tínhamos ao nosso redor. Fez esquecer meu casamento e a maldita Juliana. Maldita Juliana, me condenei na mesma hora por estar traindo a garota popular do colégio, a filha da puta da mãe dos meus filhos, a minha mulher fiel que nunca se arrumará para tentar me agradar, que nunca se esforçará para salvar o nosso maldito casamento. Eu não queria me culpar, Gemma não era uma válvula de escape, Gemma tinha problemas maiores que o meu, começaríamos uma vida nova dali para frente, onde faríamos amor frente ao mar, onde seu cabelo colaria o suor do meu peito, onde, inclusive, todos os dias eu poderia me apaixonar pela mesma mulher.

Longos anos com Gemma, até a maldita aparecer de surpresa em nosso aniversário de namoro, Gemma está morta.

Maldita Juliana...