segunda-feira, 27 de junho de 2016

Desça mais uma dose, seu filho da puta

Eu estava puto com minha vida, bebendo no meu bar de sempre. Que se dane os corretos, desça mais uma dose seu filho da puta. 

Ela chegou, que papo idiota, há quatro ou cinco anos atrás eu daria atenção, mas falei para ela encher o saco de outro, eu estava bem, pois estou acostumado a ser sozinho. 

...terça-feira qualquer, perdi uma grana por aí, precisava beber e escutar um blues. Desça mais uma dose, filho da puta! A maldita estava lá, eu sabia quem era pelas tatuagens na mão e o batom forte nos lábios. - Desça duas, amo você! 

...desculpas aceitas, três horas escutando sermões, apartamentos próximos e dias ininterruptos de paixão selvagem, arranhões e gemidos gostosos. Nos temos meia luz ao nascer do sol. Calcinha no chão, pêlo do cóccix arrepiado; marcas de batom por aí, vinho no meu tapete branco. 

Meses longínquos, mais uma vez no mesmo bar. Filho da puta, desça mais uma. Há tempos não a vejo, partiu sem se despedir, cumpriu o que tratamos, mas é foda, eu prolongaria com certeza mais alguns encontros. 

- é por isso que só passo o pano no balcão, seu filho da puta. - indagou meu garçom favorito. 

domingo, 12 de junho de 2016

Há tempos ...

...há tempos sem me apaixonar, sem sentir o coração acelerar nos encontros ou nas mãos esquecidas uma sobre as outras em nossas despedidas. Seu nome soa como um blues, um café quente pela manhã depois de uma noite mal dormida ou até mesmo um bom filme numa noite fria e chuvosa de um domingo qualquer. 

Ela simplesmente esquece que não sabe dançar, ela não se importa com os rótulos e simplesmente se permite. Ela usa preto, rosa e qualquer cor, ela simplesmente faz nascer verão em dias turvos e sem cor. Ela é o jardim da primavera frente a solidão noturna das ruas de São Paulo. Merda, há tempos não me apaixonava. Não sei lidar, sou péssimo com relacionamentos, sempre acabo fazendo uma besteira e me afastando, mas UAU, com essa mulher é diferente...

São nove horas de um dia qualquer, meu telefone toca e ela quer me ver. Desde as três horas desse dia ou anteriores a esse, eu já quis, como se precisasse de uma desculpa para vê-la sorrir ao fechar os olhos e ter seus lábios encostados aos meus.

Merda, não sei se dessa vez conseguirei fugir. Na verdade, não quero, pois amo me perder no labirinto de seu olhar...