quinta-feira, 12 de maio de 2016

Sobre uma carta perdida

Você resolveu partir e não lembro de ter chorado, perdi duas ou três noites de sono, é verdade, mas não lembro de ter implorado sua permanência. Continuei bebendo e fumando, a máquina de escrever permaneceu em movimento, assim como os lençóis foram trocados e seus quadros doados para instituições de caridades. 

Alguns livros ainda permanecem na estante, bem como suas calcinhas guardadas em algumas gavetas, mas não às tenho como troféus, muito pelo contrário, apenas as mantenho por aqui para lembranças. Sim, às vezes penso em nós dois juntos, no café horrível que você mal preparava pela manhã, ou a torrada queimada numa margarina qualquer, normal, adorava a forma desajeitada qual se fazia prestativa por mim.

Ah, algumas plantas morreram e o violão está desafinado, porém a vitrola está com a agulha afinada sempre a tocar meus blues tão detestáveis por ti, mas não te culpo, sei que sou estranho. Quis te escrever, talvez a carta não chegue por não saber seu endereço correto, mas senti falta do seu cabelo loiro sob meu peito, e, às vezes escuto sua risada por aqui, loucura demais, pois sempre estou embriagado.

Com amor, seu misterioso amante. 

Nenhum comentário: