sábado, 23 de abril de 2016

Vó, hoje resolvi vir escrever para a senhora. Usarei esse espaço às vezes, não falarei para ninguém que esse muro será de lamentações nossas, mas deixarei as mensagens aqui, caso queiram ler.

Está foda sem a senhora e como a senhora sempre fora tão astuta, hoje talvez se orgulharia do que fiz, primeiro me repreenderia, mas depois estaria ao meu lado.

Fomos jantar e um senhor se aproximou e por dentro senti um desejo incontrolável de de repente partir para cima dele, seja com uma faca ou a próprio punho. Um morador de rua, vó. Um senhor debilitado que apenas queria ser notado. Eu não sou tomado por ódio, jantei sem sentir o gosto da comida, isso fez com que meu jantar fosse apenas para ser terminado, pois eu tinha algo a fazer.

O olhar dele era o seu, ele agradeceu e falou para deus me abençoar. Ele agradeceu como se cinco reais fosse a fortuna da vida dele, dei o dinheiro e falei que era para ele tomar uma pinga, numa vida tão sofrida, acho justo ele tomar duas branquinhas para dormir em paz. Vó, não era a senhora me testando? Que deus é esse que ele mencionou, será o mesmo que confio e rezo para que todos os dias vocês estejam bem, cuidando de nós aí nos reinos e no paraíso?

Aos poucos estou melhorando, mais justo e cordial, sei que isso vem da senhora, pois uma mulher me contou esses dias. Você esteve por aqui esses dias, mesmo quando peço para que você proteja mais minha mãe e minha irmã, esteve ao meu lado me protegendo. A senhora sabe que não preciso, eu me viro, sou garoto criado de rua, a senhora me ensinou a ser um excelente negociador, um astuto andarilho da noite, apenas peço que norteie meus caminhos.

Essa mesma mulher me disse que você sussurra para que eu ache o caminho certo, pois sei o que fazer, sei o que é certo a ser feito. Estou tentando fazer o certo, Dona Leila.

Entrarei de férias essa semana, logo estarei em Santa Fé e visitarei-a para conversamos um pouco, talvez fume um cigarro com a senhora, talvez não. Visitarei a tia Inês no seu horário...

Obrigado por tudo que ainda faz por mim, o amor nunca morrerá, Dona Leila...boa noite

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