domingo, 19 de abril de 2015

Onde eu deveria estar...

Na adolescência eu namorei uma Patrícia. Ela não trabalhava, colocava todos os problemas dos estudos em seus pais, na falta de tempo e é claro, em mim. 

Patrícia estava cansada de dormir nove horas por dia e não possuir olheiras, no começo eu achei incrível namorar a menina mais bonita do colégio, porém com o tempo eu perdi o encanto, pois fui me tornando um rapaz melhor e muito mais inteligente do que meus amigos no colégio. Na verdade eu comecei a reparar em mulheres não tradicionais no terceiro ano do colegial e no primeiro ano da faculdade, pois há pouco eu já tinha terminado com Patrícia. Ela fez da minha vida um inferno, como se vivêssemos uma novela adolescente. Tramas, mentiras e falsas doenças da parte dela, não controlei meus impulsos e antes de fazer qualquer besteira eu sumi, até porque fui morar sozinho e longe dos meus pais.

Hoje, vinte anos após o término eu tive o desprazer de encontrá-la novamente, linda como sempre, ainda mais vazia. Eu estava andando com minha filha no shopping, pois mesmo que deteste, eu faço às vezes de pai, levei-a para assistir o novo filme da Branca de Neve, acontece que, de repente um vulto apareceu atrás de mim e simplesmente me reconheceu. Nos dois primeiros minutos eu a achei incrivelmente linda, porém ela logo começou a maltratar o português (como sempre fez), e, como se não fosse o bastante, começou a falar do término do seu noivado de mentira.

Que alívio, a vazia jogou a culpa nos problemas. Eloquente e meticulosa culpou-me por todos os problemas, os ataques de pânico, os remédios e os três quilos acima do peso, mesmo eu imaginando uns 46 quilos para ela. A culpa da vida dela ter se tornado uma merda foi minha, mas sem palavrões, minha filha não gostou nada dessa conversa.

Fui salvo aos sete minutos de conversa, minha mulher chegou e cordialmente disse à Patrícia que era um prazer conhecê-la e que as histórias do colegial eram maravilhosas. Okay, menti para a pequena Vanessa, pois detesto passar uma imagem ranzinza e desumana, ela já arca com cargas pesadas demais em seus programas voluntários, dormindo menos de seis horas por dia e me fazendo orgulhar cada vez mais. Um abismo de diferença entre as duas, eu realmente tinha feito a escolha certa.

Doze horas de trabalho por dia e quando chegamos em casa ela se olhava no espelho reclamando das olheiras e do peso, disse que há meses não iria ao cabeleireiro e chorou sozinha indo para o chuveiro. A minha pequena Vanessa estava mal e me fez um convite, mesmo não tendo falado nada.

Debaixo do chuveiro fiz promessas de amor, hoje mais sinceras que ontem, pois todos os dias me permiti apaixonar, pois eu era fissurado pelas olheiras de minha mulher, sempre com os óculos nas leituras que emendavam dias antes dos grandes eventos voluntários. Essa era a minha mulher e poucas vezes lhe vi perturbada com algo, pois ela não era volúvel, sempre segura de si, e quando o café foi entregue à cama, era somente ela que eu queria servir, mais ninguém.

Estou onde realmente deveria estar...

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