sábado, 4 de janeiro de 2014

Enquanto você dançava...

Marília tem botas engraçadas, seu vestido vermelho era longo e me enfeitiçou, ela não me notou, pois sorria e as covas logo insistiam em aparecer, seus olhos fechavam, flechadas em meu coração, ela estava feliz por não ter me notado; aliás, ela estava se escondendo do mundo aquela noite, e eu estava me escondendo dela desde então, ela costuma ser um raio, eu fujo de raios, pois não consigo contê-los. Marília dançava e rodava sem parar, tímido só observei no fundo do bar, afinal eu não era dali, você nunca irá para um bar para ser atingido por um raio, Marília é a famosa viajante solitária da janela desejada de um ônibus lotado, eu sou apenas o o também solitário dono das poltronas de corredor.

Uma hora ela tinha que parar de dançar, mas não precisava ser logo após meu convite, pisei no seu pé esquerdo e ela logo sentiu uma dor infinita no dedo. - ok, eu sou um idiota; não me culpem quando escutarem essa história por aí. - As risadas soavam gentis, como raios nos finais das tardes anunciando uma grande tempestade, e eu decifrava alguns olhares raivosos para a pista de dança, Marília queria estar lá, eu estraguei a noite da solitária viajante, pelo menos ela aceitou a bebida, dispensou a massagem. Óbvio, quem aceitaria a massagem de um estranho, se estivéssemos em 1980 eu seria um soldado de férias, buscando o amor, buscando o raio que não veio em todas as viagens que fiz; barba por fazer, exploro suas mãos com as minhas e brinco de fazer poesia, Marília ri sem parar. Chora e explora seus pecados, vai embora e leva meu dia turvo.

Eu não pedi dias ensolarados, o horizonte tenta ser claro e limpo, mas eu prefiro raios, ela não pode ter ido embora; um raio só cai uma vez no mesmo lugar, não!?

Marília segue feliz, tentou fugir pela chuva, persisti e encontrei seu esconderijo. Abracei como se fosse nossa última tempestade, ela pegou minha mão e me beijou, enfim precisou de alguém para sentar ao seu lado nas suas viagens, hoje seguimos com sensações melhores, onde há chuva, seus raios me atingem.

Marília sabe por si só manter um solitário apaixonado, hoje o raio caiu duas vezes no mesmo lugar; diga-se de passagem, obrigado por permitir que eu te veja dançar, por mais que eu não pise mais em seus dedos, sei que o dia turvo é meu, por você eu não tenho mais medo de raios, pois sou apaixonado pelo raio mais bonito que ousou me acertar.

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