sexta-feira, 3 de março de 2017

Cáp.02 Sobre um possível adeus...

...quase cinco horas da manhã quando o celular começou a vibrar no meu bolso e eu lá, jogado no sofá, como se um ébrio fosse e, no identificador de chamada, um número desconhecido, com uma voz desconhecida, mas sagaz, feroz e medida certamente para me afrontar. O Policial me reconhecerá e quer marcar um encontro para explicar o que lhe ocorrerá. Incrédulo aceito, pois a experiência de trabalhar há tempos com bandidos me dá essa margem em discussões ásperas. No final da ligação, ele diz bons sonhos, mas é claro que eu não dormirei, faço apenas uma mala para alguns dias, beijo na testa minha mulher e permaneço ali uns cinco minutos...

...longos cinco minutos me tomam os momentos felizes que vivemos, quando éramos apenas nós dois, quando antes mesmo dela ter me traído e eu ter aceitado o perdão, ou quando não fingíamos ser felizes e perfeitos para agradarmos os familiares. Éramos felizes, domingo nos parques, sábados de bicicleta e risadas ao sairmos dos cinemas de mãos dadas. Hoje, apenas o fim e talvez ela fique feliz ao acordar e não me ver por lá, pois nosso casamento já acabou há tempos, quiça, amanhã terá alguém dormindo com ela nessa mesma cama. Ao beijar-te, juro por Deus, não voltarei para buscar mais nada. Alguns anos incríveis ao lado dela, mas acabou.

Antes de sair, ainda com o sol nascendo tímido pela manhã fria de Milão, dois policiais à paisana no maior estilo Al Capone inspecionam o apartamento, mas é lógico que ao perceber de ressalto saio pelos fundos do prédio e utilizo uma saída secreta dos faxineiros, por pouco não sou eu o lixo a ser jogado fora e por óbvio, por mais que eu tenha aceitado este encontro, não serão nas condições que o mesmo escolhera.

Dentro do táxi entro em contato com meu primo de Florença, ele me encontrará na rodoviária à 200km dali e eu ainda estou fedendo álcool e por sorte a barba está por fazer, compro um boné barato e estou dentro do ônibus. Por enquanto estou em paz e descanso...

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