terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Enquanto ela vai embora...

...mais uma vez, duas ou três horas de um novo dia. O cheiro do álcool e a gravata frouxa, dois botões da camisa aberta, pouca vontade de estar por aqui.

Aliás, dessa vez o blues estava ligado e suspeitei, tudo incrivelmente no lugar, exceto pelo vinho aberto e uma taça meio cheia. Marcas de batom vermelho, o seu batom cereja preferido. Partistes, sem bilhetes e despedidas, como deve ser, como prometemos ser, caso realmente chegará o fim.

A dor no âmago, o dia nasceu e eu simplesmente não consegui levantar, embriagado de solidão, o peito soluçava enquanto os gritos dissipavam todos os cantos do meu pequeno apartamento, o barulho do silêncio era infernal, duas horas atrás joguei o vinil contra parede, maldita Nina Simone.

Diferente de tantas outras, todos os presentes que me destes, aqui estão, mas levastes o principal, levastes a dignidade dada por ti, longos três anos atrás, quando dançamos sem som pela primeira vez; quando fizestes rir das piadas infames; pior, levastes a melhor companhia que já tive. Sozinho eu simplesmente padeço.

...

O espelho trinca e permite transparecer as olheiras, há tempos sem estar sóbrio e lúcido. Não pereço, culpo Deus e permaneço incólume, alguns anos se passaram, inclusive, soube que está bem por aí, canta e ri como ninguém, mas dança com alguém...que não sou eu.

Há tempos não sei quem sou, mas sei que preciso beber alguma coisa...

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