Após um lapso temporal, voltei. Ébrio e só, como de costume. Pela porta, se foi. Já estou acostumado.
Aliás, de todas as outras despedidas, essa doeu um pouco mais. Não deixou bilhetes, nem tampouco cigarros apagados nos cinzeiros espalhados pelo meu apartamento, mas deixou algumas roupas por aí, com seu cheiro. Suas vestes jogadas e nada mais. A cópia da chave sobre a mesa. Maldito cheiro de gardênia que ultrapassa a sala e acerta como um jeb no meu queixo.
Levou meu sorriso. Quero que se foda seu jeans apertado, a taça de vinho compartilhada e o baseado fumado. Pudera ter partido, realmente nunca esteve aqui.
O mundo aos seus pés, scarpin nude 36, sempre um degrau acima de mim, acima de nós. Do resto do mundo! - Malditos flertes, malditos nós, malditos todos os homens que ousaram um dia te amar. Que tolice a minha, insolência em imaginar que suas madeixas californianas estariam para sempre nos meus travesseiros, na minha cama e no edredom. Deixei-me levar pela emoção, me apaixonei e meu coração quebrou aos seus pés. Que se foda Leoni, Frejat e Cazuza, jogado aos seus pés é O CARALHO!
Matei o dia de trabalho, inventei uma desculpa qualquer. Foda-se os prazos e foda-se os blues. O dia passou, sob a fresta da cortina semi-aberta adentra um fio de sol, do pôr do sol que não deu certo, não pra mim. Quão absurdo será sonhar com alguém que te quer morto?
Maldita, te vejo por todos os cantos desse apartamento, mas vou me recompor, não por mim, mas para um dia no futuro eu ter a oportunidade de falar não para você, apenas para manter a dignidade mentirosa sobre o que é ter cicatrizado um ferimento ruim.
Você é o fim, obrigado por absolutamente nada. Fingirei que não existiu dor, pois assim saberei que amanhã será um dia bom. Enfim, um dia sem nós dois.